Se entrou aqui é porque provavelmente coloca a si mesmo a hipotese de recorrer à ajuda de um psicólogo. Hoje em dia, procurar ajuda psicológica especializada acaba por fazer parte do quotidiano de muitas pessoas, pelo que é perfeitamente natural que em algumas fases da sua vida, crítica ou não, necessite de recorrer a um psicólogo. Não é vergonha alguma dizer que se anda num psicólogo, porque muitas vezes as potencialidades de nos sentirmos bem estão dentro de nós, nós é que não as vislumbramos.........



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pânico e agorafobia....




Explicar o que é um ataque de pânico só faz sentido para quem não tenha passado por um… É daquelas coisas que só se conhece, vivendo-a, experienciando-a, sentindo-a. Já alguma vez sentiu? j. compareceu inicialmente na minha consulta referindo "não sei que se passa comigo, mas sempre que apanho o comboio, só me apetece fugir, estou ali dentro, estão muitas pessoas a minha volta, o meu coração fica acelerado. Não sei que tenho, só não quero sentir isto".  A angústia e o medo que perpassavam nas palavras de J. eram abismais. Como se andar de comboio para ir para o trabalho fosse tão terrível que não o suportaria. Dificil de imaginar? Ou dificil de sentir?

Então, para si, que nunca teve um ataque de pânico, aqui vai uma  explicação: imagine que se sente ansioso; mais ainda; mais ainda; à beira do descontrolo total; completamente descontrolado – o coração a 1000 à hora, um aperto no peito, parece que o ar não chega, o mundo à sua volta adquire um tom cinzento, parece confuso, as pessoas estão distantes, sente-se tono; o estômago parece uma bola; as mãos transpiram como se estivesse com febre, a boca seca, a garganta completamente apertada; necessidade completa de fugir, de fugir para um outro lado, necessidade de nem sequer sentir......assustador? Pois pode também imaginar que há pessoas que passam por este tormento, sim é mesmo um tormento, várias vezes por semana, as designadas "crises". A estas pessoas não vale a pena dizer "tem calma" porque na realidade nada as vai acalmar ou sossegar  E o resultado é sentirem-se incompreendidas e isoladas.

J. começou então a preocupar-se que sempre que entraria no comboio, estas sensações iriam ocorrer novamente, e de facto começou a preocupar-se de forma persistente com a possibilidade de lhe acontecer algo terrivel na sequência de um ataque de pânico "eu ou morro, ou enloqueço". Quando isto acontece, já estão reunidos os critérios para se definir a situação como sendo uma perturbação de pânico.




Ao pânico, facilmente se associa uma outra perturbação: a agorafobia. O pânico, pelas suas características – crises súbitas, inexplicáveis, surgidas do nada – exige uma explicação racional!  Todos nós procuramos uma explicação para aquilo que passamos. As razões aparentemente mais evidentes prendem-se sempre com a saúde fisica: é um problema no coração, é uma quebra de açucar

E se voltar a acontecer, como é que pode ser socorrido rapidamente ou procurar ajuda? Bem, se estiver numa auto-estrada, de onde não existem escapatórias durante alguns quilómetros, ou numa ponte, será difícil ser salvo a tempo, pensa. O mesmo se passa em locais com muita gente que, ainda por cima, criam uma situação de “inundação sensorial”, capaz de fazer reagir o organismo menos sensível. Ou locais fechados, como um cinema, teatro ou sala de espectáculos, em que seja difícil chegar à porta e sair se, a qualquer momento, o corpo voltar a dar sinais de que o vai atraiçoar. Assim, os locais de onde resulte difícil ou embaraçoso sair, em caso de necessidade, começam a ser evitados (J começou a evitar andar de comboio, frequentar centros comerciais), bem como os locais onde já se produziram ataques de pânico, porque ficam associados, de uma forma traumática, aos maus momentos que lá se passaram.

Quando se instala a perturbação do pânico com agorafobia o impacto na qualidade de vida é brutal:
Enquanto que, em fases iniciais, as pessoas “apenas” se sentem desconfortáveis nas suas rotinas diárias, hipervigilantes ao meio que as rodeia e aos seus sinais corporais, em situações mais avançadas, o seu raio de acção vai encolhendo, a vida social da pessoa vai sendo naturalmente afectada, e questões sociais e tão simples e banais, para a maioria de nós, como uma saida de amigos, ou ficar sozinho em casa, tornam-se incapacitantes e perturbam o dia a dia do individuo, que vive limitado e com restrições. No extremo desta perturbação, encontramos pessoas que raramente conseguem sair de casa, local que muitos consideram seguro, ou que são incapazes de fazer seja o que for sem a companhia de uma pessoa que considerem de confiança. Extremamente dificil de imaginar não é?

Quer o pânico, quer a agorafobia são perturbações progressivas: sem tratamento eficaz, vão piorando. 2,7% de pessoas, em qualquer ano, sofrem desta perturbação o que, só em Portugal, resulta em cerca de 280 mil pessoas afectadas (aproximadamente o dobro de mulheres). É uma perturbação que se instala em idades jovens (finais da adolescência, início da idade adulta), ainda que existam casos com o seu início em qualquer idade.


Esta perturbação tem, por vezes, companhias indesejáveis, sendo as mais frequentes a depressão, a perturbação obsessivo-compulsiva e a perturbação da ansiedade generalizada. É importante ser tratada precocemente. É premente que a pessoa não sinta vergonha e começa a procurar a razão e o porquê de sentir "simplesmente" (ironia para quem já passou por uma destas situações) mal em estar com os amigos, viajar de carro....ou estar sozinho.....

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