Se entrou aqui é porque provavelmente coloca a si mesmo a hipotese de recorrer à ajuda de um psicólogo. Hoje em dia, procurar ajuda psicológica especializada acaba por fazer parte do quotidiano de muitas pessoas, pelo que é perfeitamente natural que em algumas fases da sua vida, crítica ou não, necessite de recorrer a um psicólogo. Não é vergonha alguma dizer que se anda num psicólogo, porque muitas vezes as potencialidades de nos sentirmos bem estão dentro de nós, nós é que não as vislumbramos.........



domingo, 6 de novembro de 2011

Casais que se tornam mais amigos do que amantes


Todas as relações amorosas, seguem um percurso mais ou menos "defenido" que é igual para todos aqueles que posteriormente pensam em juntar-se ou em casar.

As pessoas conhecem-se, por intermédio de amigos, pelo facebook, por chats de internet, por saidas à noite. Enamoram-se, apaixonam-se e começam a namorar. Durante o periodo de namoro, o relacionamento, na maior parte das vezes, parece quase "perfeito". O casal assume tantas vezes o outro como a cara metade. Pensam em partilhar as suas vidas. Com o passar do tempo, e se tudo correr bem, o casal pensa juntar-se e, como é tão tradicional na cultura portuguesa, casar, ter filhos, constituir uma familia.

Posteriormente vem a vida a dois, o que com o exponencial de divórcios hoje em dia não considero que seja uma situação de todo fácil. Sogras que se metem na relação. Contas para pagar. O desemprego de um dos conjugues. Dificuldades na comunicação, parte a parte. Decições e opiniões contrárias quanto à educação dos filhos. 

Todos estes factores podem fazer com que o casal se aproxime enquanto amigos mas que se afastem enquanto verdadeiro casal. Onde fica a intimidade no meio disto tudo? Quem é que se lembra de "mimar" o outro? Quem é que tem vontade de se envolver sexualmente com o parceiro? Em terapia, esta é uma das questões que eu trabalho constantemente. Os casais esquecem-se que existe afectividade sexual, esquecem-se que existe o "namoro" e o afastamento com o passar do tempo vai sendo cada vez maior e claro, inevitável.

Então é bom termos uma relação de amantes-amigos?

 É inevitável que o amor se transforme em amizade depois de certo tempo? Até que ponto essa mudança é benéfica?

Quando usamos a palavra inevitável, na maioria das vezes, estamos a referir-nos a algo de negativo, algo que não gostaríamos que acontecesse aos casais . A transformação, seja ela em qualquer campo das nossas vidas é benéfica, quer dizer que passamos para outra fase, que conseguimos olhar a vida de outra forma e, na maioria das vezes, com mais segurança e maturidade. Se pensarmos assim, existem diversos pontos positivos em "amantes amigos".

- Caso seja inevitável, como entrar nessa fase e aceitá-la com maturidade, sem grandes crises que possam acabar de vez com o relacionamento?


Na verdade, a atitude madura já "deveria" estar presente em qualquer relacionamento, afinal, estamos a falar de dois adultos que decidiram, em comum acordo,  de viverem juntos.

Um relacionamento amoroso baseado apenas na paixão não constrói uma base sólida para o tão sonhado "felizes para sempre", somente conseguimos aceitar e, melhor ainda, sermos felizes com o companheiro escolhido, quando identificamos nele características que são compatíveis com a nossa interpretação do mundo, ou seja, que nos remetem a sentimentos de confiança, lealdade, carinho e amor. Ao pensarmos assim, para um relacionamento ser duradouro e superar as suas diversas transformações, características ditas de "amigos" deveriam existir desde o princípio .

No processo de mudança, o segredo não é "aceitar" a nova fase como acto de comodismo mas sim procurar as grandes novidades que ela pode proporcionar, um novo e maduro amor que nasce. Casais que conseguem passar por esta "transformação", de forma tranquila ou com a ajuda de um profissional, não importa, têm como recompensa a união de duas forças, o amor e a amizade.

- Alguns especialistas dizem que as labaredas da paixão não podem e nem devem durar para sempre e que, com o tempo, é preciso manter apenas as brasas acesas. Será assim?

Está provado cientificamente que a paixão acaba em dois anos, as labaredas que trazem a necessidade do outro o tempo todo, o ciúme desmedido e as atitudes intempestivas também terminam. O que sobra é a serenidade da companhia, a confiança e cumplicidade e , é claro, duas pessoas que têm de alimentar a brasa do desejo e amor para que ele nunca cesse.

- Deixar aflorar o companheirismo significa que o amor acabou, que a relação esfriou?

Na minha experiência atendendo casais, eu digo que não. Quando, no processo terapêutico, um casal em crise, retoma as atitudes de companheirismo, com ela renasce a união, o entendimento mútuo e o desejo sexual.

- Como detectar essa mudança? Que atitudes são assumidas pelos parceiros que deixam claro que o fogo da paixão terminou?

Quando a mudança é implícita para os dois, geralmente o processo acontece com naturalidade e, aos poucos, o relacionamento segue o seu rumo.

Pode acontecer que um dos parceiros apresente comportamentos diferentes dos habituais, sendo assim, é importante que aconteça logo uma conversa sobre as mudanças observadas, não deixando que a situação chegue ao limite. Muitas vezes, basta uma conversa esclarecedora para que o casal consiga interpretar e resolver a situação juntos. Se acharem necessário a intervenção de um profissional, façam o quanto antes, admitir erros e aceitar mudanças é sinal de inteligência e de uma vida mais saudável e feliz.

- Essa mudança acontece de maneira natural? Ou a correria do dia a dia, as brigas, a falta de frequência de sexo e os filhos contribuem para enterrar de vez o amor do casal?

Uma forte característica dos casais em crise é colocar a culpa  num terceiro. Ninguém e nem nada é capaz de acabar com o sentimento de duas pessoas que realmente querem ficar juntas, factores como a correria e o pouco tempo para sexo, em casais saudáveis (ou que procuram ajuda), são responsáveis por aumentar a vontade de estar mais tempo juntos.

- Dá para reverter esse quadro? Como?

Com tolerância, respeitando o seu parceiro e sendo respeitada/o por ele/a, traçando novas missões e sonhos em comum .

Caso encontrem dificuldade sozinhos, a terapia cognitiva , através do seu processo terapêutico é riquissíma em técnicas visando a mudança de pensamentos que geram estes comportamentos e sentimentos disfuncionais para a relação.

Concluindo:
Acreditem no amor, afinal, existem muitos casais que enfrentam as mesmas dificuldades que você e, ainda assim, continuam a viver um "final feliz" .



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